Quem chega em Brasília e decide ir à Praça dos Cristais, situada no Setor Militar Urbano, em frente ao Quartel General do Exército (o chamado “QG”), acaba descobrindo que o local já não parece mais um simples espaço utilizado para a construção paisagística do artista plástico Roberto Burle Marx e seu assistente Haruyoshi Ono.
Isso, porque, com o início das manifestações em 31 de outubro passado, em protesto contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o espaço em frente ao QG de Brasília passou a ser utilizado como local de acampamento dos manifestantes que, aos poucos, vão adicionando melhorias para a estadia no lugar.
O aparato tem de tudo, praticamente, desde banheiros (químicos) à farmácia, cozinhas e até atendimento terapêutico. Para a criançada também não falta entretenimento, pois existe um espaço onde é realizado teatro de fantoches, além de outras distrações.

Também existe um local onde massagens são oferecidas ao público, tudo gratuitamente. Há o local para carregamento de aparelhos celulares, construído de forma improvisada com o dinheiro doado pelos frequentadores do acampamento.
A regra básica entre todos é a confiança e a colaboração. Para isso, doações são feitas de forma voluntária e o valor arrecadado chega a ficar ali mesmo, no local, exposto para todos, à medida que vai sendo recolhido para a compra de mantimentos e outros itens, como combustível para geradores de energia.

A sensação dos manifestantes que estão acampados no QG de Brasília é de que o local está virando uma “cidade” ou, no mínimo, uma espécie de ponto de migração e apoio central, fixo, das manifestações que ocorrem pelo Brasil.
Independentemente das circunstâncias e motivações, o fato é que o acampamento que já dura 33 dias também tem sido oportunidade de trabalho para muitos ambulantes, que aproveitam a aglomeração para vender os mais variados produtos.
Não há previsão para o fim dos protestos e a expectativa dos manifestantes é de que o número de apoiadores aumente, sempre em frente ao QG, local considerado seguro por eles, tendo em vista de ser uma zona militar, protegida pelo Exército, o qual já reconheceu em uma nota conjunta das Forças Armadas a legitimidade das manifestações.