A psicóloga Marisa Lobo, especialista em saúde mental e autora de obras sobre comportamento humano, emitiu um alerta público sobre o uso excessivo de bonecas reborn — artefatos hiper-realistas que simulam bebês —, classificando o fenômeno como “sinal de sofrimento psíquico não resolvido”.
Em artigo divulgado nesta segunda-feira (23), ela destacou que o comportamento de alguns adultos, que tratam os objetos como filhos reais, pode indicar transtornos emocionais graves.
Comportamentos Alarmantes
Segundo Lobo, os casos mais preocupantes envolvem:
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Rotinas diárias com a boneca, incluindo alimentação, banho e passeios, como se fosse um bebê vivo;
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Crises emocionais intensas quando separadas do objeto;
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Exigência de reconhecimento social e jurídico do brinquedo como “filho”, inclusive por parte do Estado;
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Isolamento de vínculos humanos para dedicar-se exclusivamente à boneca;
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Resistência a intervenções, com afirmações de que “não há problema nenhum”.
“Essas atitudes não podem ser romantizadas ou vistas como escolhas inofensivas. São pedidos de socorro disfarçados”, afirmou a psicóloga.
Transtornos Associados
Marisa Lobo relacionou o apego excessivo a possíveis diagnósticos clínicos, entre eles:
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Transtorno do luto complicado: substituição de perdas reais, como a morte de um filho ou aborto, pela fantasia com a boneca;
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Transtornos de apego: dificuldade em estabelecer relações humanas estáveis, direcionando afeto a objetos por medo de rejeição;
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Traços de transtornos de personalidade, como dependência emocional e dificuldade em distinguir realidade e fantasia;
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Casos graves: episódios dissociativos ou psicóticos, com delírios e negação da realidade.
A psicóloga enfatizou que a solidão patológica e a depressão também podem estar associadas ao fenômeno, especialmente quando a boneca se torna a “única companhia segura”.
Riscos da negligência
Para Lobo, minimizar esses sinais é um erro. “Quando há isolamento, substituição da vida real por fantasia e rigidez emocional, estamos diante de um quadro que exige intervenção profissional”, explicou. Ela criticou a tendência de normalizar tais comportamentos, alertando que a “conivência com a fantasia pode agravar o sofrimento”.
A psicóloga listou orientações para lidar com o tema das bonecas reborns:
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Não normalizar vínculos que substituem relações humanas;
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Oferecer acolhimento, mas propor ajuda profissional;
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Evitar reforçar a fantasia como solução para a dor;
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Encaminhar para terapia, destacando que buscar apoio “é ato de coragem, não fraqueza”.
O mercado de bonecas reborn registrou crescimento de 35% nas vendas no Brasil entre 2021 e 2023, segundo a Associação Brasileira de Artesãos Reborn (ABAR). Enquanto isso, casos extremos ganham visibilidade, como o de uma mulher no Rio de Janeiro que exigiu atendimento médico para sua boneca em um hospital público — fato que motivou projetos de lei para coibir a prática.
Marisa Lobo finalizou com um apelo: “Há vida além da fantasia. A cura começa quando reconhecemos a dor real e buscamos ajuda”. Ela reforçou a importância de abordar o tema com “responsabilidade, verdade e acesso a tratamentos adequados”.