A oposição no Congresso Nacional planeja estender as atividades da futura CPI Mista destinada a investigar as fraudes em descontos de aposentadorias do INSS até o ano eleitoral de 2026. A estratégia é utilizar a Comissão Parlamentar de Inquérito como instrumento de desgaste político contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O contexto é favorável à oposição: pesquisa Genial/Quaest desta semana apontou que 31% dos brasileiros atribuem ao governo federal a responsabilidade pelas irregularidades no INSS.
A desaprovação do governo atingiu 57%, o pior índice do mandato. “Notícias negativas como o escândalo do INSS têm neutralizado os efeitos positivos da economia e dos novos programas”, analisou Felipe Nunes, diretor da Quaest.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), sinalizou aos opositores que lerá o requerimento de instalação da CPI em sessão conjunta no próximo dia 17 de junho. O ato, inicialmente previsto para maio, criará formalmente a comissão, mas deixará para o segundo semestre a definição de seus membros, relator e presidente.
Cronometrando o impacto eleitoral
O timing é crucial para os opositores. Se instalada após o recesso parlamentar de julho, a CPI terá seu prazo inicial de quatro meses (prorrogável por mais 60 dias) atravessando boa parte de 2026.
O escândalo, revelado originalmente pelo Metrópoles em dezembro de 2023, já levou à Operação Sem Desconto da PF e à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Disputa
A perspectiva de alta visibilidade transformou as vagas na CPI em objeto de cobiça parlamentar. Deputados em busca de reeleição no próximo ano disputam espaço na comissão. Na bancada do PL, maior da Câmara, oito parlamentares brigam por seis vagas (três titulares e três suplentes).
A relatoria é outro foco de tensão. Enquanto o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), defende o deputado Coronel Chrisóstomo (RO), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) articula nos bastidores pela indicação da deputada Coronel Fernanda (MT). Para presidência, Alcolumbre teria como preferência o senador Omar Aziz (PSD-AM), ex-presidente da CPI da Pandemia.
Base governista em retirada
A adesão de aliados do governo ao requerimento da CPI foi mínima. Apenas a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) e o senador Fabiano Contarato (PT-ES) romperam a barreira.
Fontes petistas revelam que chegou a ser considerada uma adesão estratégica para conter o impacto de um vídeo viral do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre o caso, que alcançou mais de 100 milhões de visualizações. A avaliação de risco de dano político, porém, prevaleceu, levando ao recuo.