Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, tornou-se centro de debates no Partido Liberal (PL) após reportagem do UOL revelar mensagens de 2023 em que Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Bolsonaro, ironizava sua possível candidatura à Presidência.
O episódio acelerou a saída de Wajngarten do comando da comunicação do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme fontes partidárias confirmaram à imprensa nesta terça-feira (28/05).
Nas trocas de mensagens obtidas do celular do tenente-coronel Mauro Cid, assessor próximo a Bolsonaro, Wajngarten encaminhou em 27 de janeiro de 2023 uma notícia sobre a cotação de Michelle para concorrer à Presidência pelo PL. Cid respondeu: “Prefiro o Lula”. Wajngarten replicou: “idem”.
O diálogo, segundo aliados de Michelle, foi decisivo para a ruptura com o ex-assessor, que cuidava da imagem de Bolsonaro desde 2019.
Estratégia Política
A movimentação ocorre em meio a especulações sobre o futuro eleitoral de Bolsonaro, alvo de processos de inelegibilidade. Rosana Valle (PL-SP), deputada federal e presidente da Executiva Estadual do PL Mulher em São Paulo, defende Michelle como nome “estratégico” para ampliar a base feminina.
“Ela ocupa um espaço que estava vago, com uma postura distante do estilo ‘duro e inflamado’. Isso impacta mulheres que se sentem deslocadas no debate público”, afirmou Valle, que convive com Michelle desde 2023.
Desde a segunda metade de 2022, Michelle assumiu papel central na campanha do marido, focada em reduzir a rejeição entre eleitoras. Dados do Instituto Datafolha da época mostravam que 53% das mulheres rejeitavam Bolsonaro no segundo turno, contra 43% dos homens.
Tarcísio
Enquanto Michelle busca espaço, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é visto como sucessor natural do eleitorado bolsonarista em caso de inelegibilidade do ex-presidente.
Em evento no Palácio dos Bandeirantes na semana passada, Tarcísio adotou retórica religiosa ao lançar um programa contra a pobreza: “Falamos de legado e galardão perante Deus, pois a melhor forma de servi-Lo é fazer a diferença”, declarou, ecoando temas caros à base evangélica.
Analistas ponderam, porém, que a ascensão de Michelle depende de articulação partidária. O PL ainda não definiu se priorizará nomes da família Bolsonaro ou aliados como Tarcísio em 2026.
Procurada, a assessoria de Michelle não comentou as mensagens vazadas. Wajngarten, via redes sociais, negou “desrespeito” à ex-primeira-dama, mas confirmou sua saída do núcleo de comunicação de Bolsonaro.
Contexto:
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Fabio Wajngarten: Comandou a Secom de Bolsonaro entre 2019 e 2022. Deixou o cargo após críticas à gestão de crises, mas seguiu como consultor informal.
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Mauro Cid: Ex-assessor da Presidência, está preso desde maio de 2023 sob investigação por suposta falsificação de carteiras de vacinação.
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PL Mulher: Frente partidária criada em 2022 para ampliar a participação feminina no PL, hoje com 15% das cadeiras na Câmara.